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Bastante cedo





Bastante cedo Por Ana Paula Arendt*


Havia um homem pela manhã conversando com o seu bebê. Eu caminhava cedo pelo meu tempo, enquanto o sol ainda se faz inclinado e os pequenos arbustos têm enormes sombras, quando há cheiro de orvalho fresco que espalhamos em nossos frascos… Quando vi um homem muito jovem sentado pela manhã em um banco no jardim conversando com o seu bebê em um carrinho.


Ele não queria fazer seu pequenino assimilar qualquer ideia ou prática, nem o seu tipo de linguagem. Não queria fazê-lo repetir palavras para aprender o necessário jeito na vida.

Não traduzia a si mesmo como os donos se dirigem aos seus cães ou aos seres humanos de menor inteligência, elogiando os seus feitios com uma voz lânguida.


Não admoestava o bebê por haver feito algo que escapava à ordem correta que ele deu ao mundo, nem se distraía com outras coisas e pessoas ao seu redor, dizendo ao bebê que ele é menos interessante.


Não dizia algo que tirava de si mesmo nem jogava tudo abruptamente à face de uma criança que ele mal percebesse; nem parecia preocupado com as fraldas, com o sol ou com a alimentação do seu filho. Não imitava vozes nem dizia palavras incompreensíveis.


Não. O homem estava conversando cedinho com o seu bebê. Estavam realmente interessados um no outro. Estavam fazendo companhia um ao outro. O que estavam conversando? Os dois me viram passar com o meu nobre cãozinho mas não trataram disso, de tudo que vai e vem. Perceberam a nossa presença e depois de uma pausa continuaram conversando um com o outro.


Nunca tinha visto um homem conversando com o seu bebê além de mim, e também de meu pai nos raros momentos que de presente nos dá a vida.


Familiares achavam algo inesperado que eu conversasse com meus filhos, sendo eles apenas bebês muito pequenos. Ignoravam como aprenderam a falar tão rápido e corretamente: diziam a inteligência humana algo genético… Há quem considere conversar seja algo do domínio da inteligência e não um dom de humanidade…


Na minha jornada em que segui fui pensando o que esse bebê terá sobre os seus ombros: a compreensão de um mundo incessante, as feridas que fazem os homens, a civilização que lhe fará deslumbre, as descobertas do que não sabia.


Ou será que tudo o que vi foi uma bolha de sabão gigante da qual o homem e o seu bebê já se esqueceram? Algo que parece impossível e brilhante tem no caos tão curta jornada…


Os ilustrados de cabelos brancos e de rostos bastante expressivos me cumprimentam ao longo do caminho lembrando estou com um poema.


Estavam encafifados que domingo tão cedo já sou ser humano igual a eles, deliciada em descobrir o dia e sair andando pelas coisas.

Digo a eles que é muito cedo para me achar assim tão jovem.

Certamente que um dia e talvez hoje eles também foram esse bebê que é a perene duração do mundo...


* Ana Paula Arendt é cientista política, poeta e diplomata.


Imagens: Newborn Photographer Seattle — Elena S Blair Photography; e Gabriel Jesus com filha. © Reprodução, Instagram/ #dejesusoficial




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