O dia da Academia (por Ana Paula Arendt*)
Hoje é dia da Academia, dia de pôr meu vestido de veludo com dobraduras e passamanarias, de papeis debaixo do braço, de ser miúdo.
Hoje é dia de festejar a colenda Academia, dia, confrade, de pôr a nossa melhor gravata para a missa dos cientistas, poetas e diplomatas! Que feliz, ver gente nova que eu não veria…
Os físicos ensinando desde os buracos negros até as cordas cósmicas que vibram como a nossa voz. Biólogos e médicos fazendo juramentos íntegros, de enriquecer a ciência e a cultura na missão após.
Engenheiros, cientistas da sociedade e das tecnologias, filólogos, geógrafos, economistas, educadores da psicologia todos juntos concretizados no mesmo espaço! É dia de ver o retrato de Sua Majestade Primeira Maria, de aprender coisas novas, de palpitar com viço nos maços.
Dia da minha mais alta e duradoura alegria…
Senhor Presidente lega altivo entre os lautos sábios, de pé aplaudimos e ouvimos os mesmos aplausos de antes. Já eu me sento de frente a leão Anselmo e cerro os lábios, ele acena a hora de fazer o arco em que guardamos instantes.
Dia de ler e aprender latim nessa urbe de Olissipo que paira sobre as nuvens, acima dos estereotipos. Dia de descobrir arqueologia de lápides antigas romanas, quem é Ferreira de Castro, que o Brasil e Portugal irmana. Dia de estudar soluções para a voragem das periferias urbanas, de entrevista com a confrade que a todos ama, antecipo… De ouvir no Porto retumbar de Camões os linotipos.
Depois de muitos séculos, quando já tivermos ido deste mundo em que vencemos o caos, por nós aferido O Inspetor da Biblioteca agitará o coração nosso: os livros em que escrevemos do mundo novos esboços, a honra em ter facultado de nós o melhor troço e sentido.
* Ana Paula Arendt é poeta, diplomata e membro correspondente da Academia das Ciências de Lisboa.
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