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GOETHE TRADUZIDO 

  • Foto do escritor: Ana Paula Arendt
    Ana Paula Arendt
  • 11 de ago.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 15 de ago.

Prezados amigos e leitores, 


conforme prometido, transcrevo alguns versos de Goethe traduzidos. Peço desculpas pela demora, mas após o entusiasmo inicial em retomar meus parcos conhecimentos de alemão, como podem constatar pelas notas, foi mais difícil traduzi-lo do que eu supunha. O cenário germanófilo austríaco aprazível certamente ajudou! Devo acrescentar mais poemas aos poucos, organizando minhas anotações, já de retorno a Belgrado. 


Começo pelo meu favorito, um de seus poemas escritos já na fase posterior de sua vida literária: o poema “Parabase”. O original em alemão consta em uma carta de Goethe (Goethe’s Werke. Vollständige Ausgabe, letzter Hand, Band II, in 3. Gott und Welt). Há uma grande discussão sobre a forma deste poema, mas poupo os leitores da análise parnasiana, para enfocar a simplicidade das rimas, a beleza do ritmo e dos significados. 



PARABASIS*

Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832)

(circa 1820)


Anos atrás o Espírito com prazer

inclinou-se entusiasmado a investigar

Para que a experiência pudesse saber

como a natureza vive a criar. 

É o Único e Eterno que expande**,

revela-se múltiplo a hora inteira:

o grande é ínfimo, o ínfimo, grande,

cada coisa uma arte à sua maneira…

Sempre cambiante, firme insistente,

perto e longe e longe e perto,

tudo formatando e transformante*** –

E eu fico ali boquiaberto.**** 




* (Do grego, para=à frente, basis= passo). Expediente em que o autor dava um passo à frente para dirigir-se diretamente ao público para comentar sua obra, no teatro grego. Também utilizado por Goethe em Fausto, para explicar os detalhes do livro (cf. análise do notável autor sérvio Danilo Kiš sobre o uso de Parabasis). Não confundir com Anabasis (ana= adentro/acima; basis=passo), uma expedição da costa rumo ao interior de uma terra, “a grande aventura humana”, de Xenofonte, e a “ascensão” do poeta e diplomata francês Saint-John Perse, também traduzido pela autora. 


** O termo “das ewig Eine” (“the One Eternal”, nas traduções inglesas) não é citado diretamente nos versos bíblicos, mas o Senhor é descrito com esses dois atributos, Único e Eterno, por Isaías: “(…) eu sou o SENHOR, eu é que faço tudo isso.” (Isaías 45, 5-7). Mantive uma hendíade para nos ater à fonte bíblica do poeta e por soar melhor em português do que a tradução literal “o Um Eterno”. 


*** O termo original, de radical “gestalten”, repete-se como aliteração neste verso, “So gestaltend, umgestaltend”. Não existe estritamente uma tradução em português ou em inglês para “Gestalt”, signiificando um soma das formas que é mais do que o todo, uma estrutura ou ordem das coisas. Em inglês se traduziu ocasionalmente “gestaltend” como “birth of shapes” ou “shaping form”.  


**** “Zum Erstaunen bin ich da”. Alguns tradutores escolheram o termo “aqui” para traduzir, do alemão, “da”. O uso do termo “aqui” dá a sensação de que o autor se imortalizou no verso, encontro que o leitor se depara com o autor. Entretanto, o termo “da” pode significar tanto “aqui”, como “ali”, ou “então”. Escolhemos traduzir o significado da palavra “da” como o sentido utilizado originalmente pelas tribos germânicas, “ali”, “não-aqui”. Assim se preserva o senso e maior clímax do poema: examinando a natureza e o Criador, ao final desse exame, o autor resulta, ao final, conseguir olhar para si de fora de si mesmo, tão complexo como uma obra da natureza, na qual se conciliam aspectos contraditórios e integrativos (i. e., grande e pequeno, à sua maneira, cambiante e permanente, longe e perto, formatando e transformante).



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