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Por que Jesus foi batizado?




Por que Jesus foi batizado?

Ana Paula Arendt*


Por que Jesus Cristo teve de ser batizado? Não tinha nenhum pecado. Os católicos e cristãos sabem de cor: para assumir perfeitamente a forma humana e viver plenamente as mesmas circunstâncias do ser humano.


O batismo serve para lavar toda pessoa do pecado original, e este é um Sacramento muito interessante, dentro da perspectiva psicanalítica, se tomarmos que a história do Jardim do Éden é uma história universal que se transcorre na nossa realidade.


Quando o ser humano come do fruto da árvore proibida, a árvore do conhecimento do bem e do mal †, tem de deixar a harmonia do convívio com Deus - o qual demanda fé. Assim nos conta o livro de Gênesis. E efetivamente, se alguém passa a confiar mais na própria percepção e na própria opinião sobre fatos, eventos e pessoas, do que nos fatos, eventos e pessoas, forma-se um lapso entre o viver e o existir. O ser humano deixa de viver, de aproveitar integralmente todos os benefícios da vida na presença divina - o Jardim do Éden - e passa a existir em um mundo artificialmente criado por ele mesmo, decaído. Esse lapso entre percepção e realidade enseja uma desarmonia, tanto maior é o lapso. O homem tem de trabalhar. A mulher tem de sofrer. Expulsos do paraíso, por causa do pecado original.


O pecado original por vezes vai crescendo, é o que tenho observado. As pessoas que se aferram muito à própria opinião sobre como o mundo é e deve ser, ao invés de contemplar como é, e como Deus afirma deve ser, tendem a persistir cada vez mais nesse erro.


No entanto, existe o Batismo. Seria então o Batismo o Sacramento de retorno ao paraíso? Momento em que se passa a enxergar claramente Deus meio ao nosso convívio, protegendo-nos de toda sorte de intempéries - sem dispor para isso de armas ou artefatos humanos - em um jardim perfeitamente harmônico?


Ao que tudo indica, não. Mas reside no fato de ser batizado algo importante, a confissão de que se é pecador, por si mesmo, e de que é necessário fazer cessar o pecado original, para poder tornar a ver as coisas como elas realmente são, sob a perspectiva de Deus - e não desta ou daquela outra pessoa. Ninguém pode chegar a Deus sem dobrar verdadeiramente os joelhos, abandonando a própria opinião, e reconhecendo esse pecado, em nome de uma confiança maior na presença de Deus. Esse exercício feito uma vez, em ritual sagrado, passa a marcar o início de uma jornada na qual se retorna paulatinamente à presença divina, o paraíso.


Jesus Cristo vinha em um tempo em que a maior parte das pessoas e governantes não era batizada. Viviam, portanto, em função do próprio interesse e persistiam em visões de mundo muitas vezes conflitantes ou incompatíveis, quando todos nos encontramos, na verdade, no mesmo mundo. Achavam que não precisavam do Batismo.


Ele próprio, Jesus Cristo, decide então ser batizado. A vida do Salvador deve ser didática, pois viver o que se diz é muito mais eficaz que discussões filosóficas ou doutrinais, nas quais se perdiam os homens em busca de respostas para o por quê do sofrimento humano, da guerra. E se o próprio Filho de Deus todo-poderoso precisa ser batizado, para recuperar a condição humana, como não precisaríamos ser batizados?


Poderia-se, então, argumentar que o Sacramento do Batismo de nada vale, havendo tantos homens e mulheres que, mesmo batizados preferem persistir em erros. Mas: o batismo não previne o ser humano de cometer erros. Apenas inutilizar o efeito do pecado original, do existir, ao invés de viver.


Viver é importante para a felicidade. Não basta existir. É preciso viver. O Sacramento do Batismo, como todo Sacramento, também é um mistério: contém tantos mais bens e divinas fragrâncias quanto mais se olha para ele, quanto mais se medita.


Fala-se no batismo das águas e no batismo do Espírito Santo. O batismo das águas, aquele em que Jesus Cristo foi imerso por João Batista, seu primo, no Rio Jordão. O batismo do Espírito Santo, aquele em que se confirmam os efeitos do batismo, da lavagem da culpa do pecado original, já que Deus providencia oportunidades para que o ser humano progrida de volta para aproveitar a presença divina no Jardim do Éden, ainda que ocasionalmente venha a cometer outros tipos de pecados.


Interessantemente, lavar a própria culpa depende de admitir a própria culpa, o olhar viciado pela tendência a abraçar um juízo próprio. Na Igreja Católica, durante um Batismo, todos que presenciam o Batismo também renovam os seus votos de Batismo, em um ritual próprio - que contém um exorcismo.


Pois não foram apenas o homem e a mulher que pecaram, ao comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal †, mas também a serpente, o animal que simboliza o mal † que excluímos.


Quando alguém deve ser batizado? A Igreja batiza as crianças tão cedo quanto possível, confiando este ensinamento aos pais, padrinhos e à Igreja. Já as denominações protestantes consideram que é preciso ter capacidade e livre arbítrio, para ser batizado. No fundo, na visão da Igreja, ambos se equivalem, pois ao chegar finalmente em idade adulta, capaz de discernimento, o homem ou a mulher tiveram de ser ilustrados por alguém para tomar consciência desse lapso entre viver e existir, ao buscar explicações para o próprio sofrimento, ou situação ainda pior e mais arriscada, como a pouca felicidade.  Sendo um Sacramento, é bem divino administrado coletivamente.


A beleza que me parece surgir do batismo de crianças em tenra idade é a confiança absoluta que a Igreja deposita no amor dos pais pelos filhos, dos padrinhos pelos apadrinhados, da própria Igreja pelas crianças e talvez isso acabe fortalecendo e favorecendo o processo de limpeza do pecado original: quanto mais unidade e confiança, tanto mais provável que a criança venha a progredir no seu percurso de fé. Por outro lado, o batismo de pessoas apenas quando atinjam a idade adulta também tem sua beleza: permite que se aproveite, numa consciência já capaz de manter gravado em memória, admirar todos os seus benefícios.   


Penso que é como aprender a nadar: quanto antes, melhor para a criança, pois nunca se sabe quando, por acidente, isso poderá lhe salvar a vida. Além disso, aprender a nadar na vida adulta é mais difícil: pelo medo, e pelo maior esforço que leva segurar um adulto na piscina, a fim de aprender a não se afogar nos juízos.


Ora, então não podemos fazer juízo de nada? Como poderiam existir então os magistrados, que têm de formar um juízo sobre determinado assunto? Isso pergunta o adulto que não é batizado ainda, para se ter uma dimensão da maior dificuldade que é batizar um adulto. Os magistrados que são batizados poderão responder melhor do que qualquer estudante de teologia. Não havendo tanto tempo disponível da parte deles, já que eles próprios têm de providenciar que suas decisões não venham a ter lapsos entre a opinião própria e a realidade criada por Deus, poderia-se então concluir, de um modo perfeito, que pelo contrário, toda decisão judicial alcançará muito melhor justa medida, quanto menos padecer do pecado original o juiz que venha a tomá-la.


As decisões tomadas por magistrados não batizados são válidas para a Igreja Católica? Sim, são válidas para todo efeito, pois Deus permitiu e nesse propósito de fazer valer Sau maior Justiça, cabem àqueles que tenham sido lesados trabalhar para que essas decisões sejam ajustadas e corrigidas – pois antes de que magistrados possam ser batizados, precisam ser convertidos. Decisões tomadas sem meditação e misericórdia do magistrado ensejam uma grave desarmonia na sociedade; por conseguinte cada vez se torna mais difícil aceitar a realidade como Deus nos propõe. Mas se a dificuldade aumenta, é porque temos alcançado maior capacidade de lidar com ela. É como Jesus Cristo afirma ao se dirigir aos não batizados ainda, para dar ciência a eles:


“O príncipe das trevas, ou seja, Satanás, é deste mundo. Já não falarei muito convosco; porque o príncipe das trevas, que é deste mundo, se aproxima, porém não tem nenhum poder sobre mim, mas ele tem poder sobre vós.” João 14:30


E São Paulo se dirige, por sua vez, aos batizados, para consolar suas lágrimas:


“Satanás, que é o deus deste mundo, foi quem os cegou, quem os tornou incapazes de verem a luz gloriosa das boas novas e de compreender a maravilhosa.” (2 Coríntios 4:4-6)


A pedido da leitora Tunica Reis, rememoro também que o Sacramento do Batismo é o rito de iniciação do cristianismo, um procedimento que, por mistério inefável, nos torna filhos de Deus. Cristo envia seus emissários e salva-vidas a quem se encontra em águas turbulentas tanto a batizados quanto a não batizados; mas a comunhão por meio dos Sacramentos potencializa um maior número de frutos, maior chance de êxito e maior felicidade. Por lógica, Cristo mandou que se tivesse uma especial dedicação àqueles que ainda não se conectaram à Igreja por meio do Sacramento do Batismo, e da Eucaristia, para que não se extraviem, nem se percam, porque desconhecendo ainda todos os recursos da Igreja de que dispoõem para se proteger, se encontram em maior situação de risco.


Existem dúvidas se é necessário ou não que, na outra ponta, o batizado ou não-batizado se conecte com a Igreja, para que esse vínculo tenha efeito, por duas razões.


A primeira é porque se cogita Deus possa ser suficiente para inspirar a que o batizado ou não-batizado faça isso, para cumprir com Sua vontade de que, sendo todos vossos Filhos, sejam todos protegidos do maligno †.


A segunda razão é por causa das características do tempo eterno. São Tomás de Aquino, nos seus estudos sobre o Evo, e os escritos de demais Santos sobre a eternidade e o fim dos tempos – sobretudo o livro do Apocalipse – denotam que, apesar de conhecermos as diferenças entre passado, presente e futuro, Deus não enxerga desse modo, havendo um só tempo. A visualização desse tempo eterno, em nunc stans, no momento de comunhão com o amor de Cristo, permite contemplar essa verdade. Tudo o que ocorreu e irá ocorrer faz parte, já, do tempo presente. Deus trabalha em todos os tempos para salvar todas as almas, e a livre escolha que o homem integral pode fazer é conhecida por Ele. Portanto: ainda que um cidadão ainda não tenha sido batizado, ele já goza plenamente dos benefícios e frutos (as primícias, de que nos fala São Paulo) do que virá a fazer no futuro, por causa da fé da Igreja.


"Se é só para esta vida que temos colocado a nossa espe­rança em Cristo, somos, de todos os homens, os mais dignos de lástima. Mas não! Cristo ressuscitou dentre os mortos, como primícias dos que morreram! Com efeito, se por um homem veio a morte, por um homem vem a ressurreição dos mortos". (I Carta de São Paulo aos Coríntios 15, 19-21).


São Vicente de Lérins, no Comonitório, recorda que “Seria uma blasfêmia intolerável sustentar que agora Cristo é um, mas que durante um determinado período de tempo existiram dois: um Cristo depois do batismo; dois, entretanto, no momento do nascimento.”.


O Batismo é reconhecido como um Sacramento ou bênção em outras religiões? A pregação de Nosso Senhor Jesus Cristo é acolhida no Livro Sagrado do Profeta. E na comunidade judaica, o Sacramento do Batismo tem o seu correspondente no Bar Mitzvá. Apesar das diferenças, a resposta de três grandes comunidades judaicas à Encíclica Nostra Ætate foi positiva, no sentido de preservar o respeito mútuo às diferentes formas de entender o serviço religioso, já que presumem todos os seres humanos são Filhos de Deus. Nas religiões não-cristãs, também são diversos os ritos de purificação por meio da água e do banho de sal, embora a prática seja regular e frequente.


Por que o ritual do Batismo é realizado uma única vez, na Igreja Católica? Porque a bênção sobre a água foi inicialmente dada por São João Batista, mártir da Igreja, e o Sacramento do Batismo foi santificado pelo próprio Cristo. A água do batismo abençoada ex tempore por São João Batista tem o mesmo efeito da água abençoada pelos sucessores de Cristo e dos Apóstolos, ou seus designados; e o seu efeito é permanente. O rebatismo foi descartado como prática possível pela Igreja Católica quando na África do Norte, em Cartago, o escritor Tertuliano, homem de retórica e projeção, escreveu o opúsculo “Sobre o Batismo” (em grego e em latim), que rejeitava a validade do Batismo conferido pelos hereges. O Papa Estêvão I deteminou instruções contrárias (vide São Vicente de Lérins, Commonitorium). Por razão similar, o Sacramento do Batismo das igrejas Batista e Presbiteriana são plenamente reconhecidos pela Igreja Católica.    

Quem pode realizar um batismo? O tema frutificou em debates recentes, tendo em conta que o Cardeal Dom Leonardo Steiner, Arcebispo de Manaus e defensor dos direitos e dignidade das mulheres, apresentou ao Sínodo no Vaticano deste ano (2024) a proposta de acolher as obras das mulheres na Amazônia. De praxe, há registros de casos em que o batismo realizados por mulheres foi aceito pela Igreja Católica. No interior do Brasil, os batizados com flor-de-laranjeira são frequentes para realizar casamentos e paróquias ocasionalmente emitem um certificado mediante autodeclaração perante o sacerdote, desde que tenha sido lida corretamente a fórmula e seguido o ritual (ainda que o ritual breve). Também nas circunstâncias de perigo de morte, é facultado a qualquer pessoa realizar o batismo, sob as mesmas condições de observação do ritual. O que se cogita é que circunstâncias de trânsito, urgência ou de difícil acesso em regiões isoladas por vezes impedem a atuação dos sacerdotes. Assim, foi estabelecido um comitê para analisar o acolhimento da obra das mulheres, sendo fundamental o registro dos sinais e/ou obras posteriores, confirmando os batismos realizados, pelo Espírito Santo.    Ver notícia “Assembleia Sinodal: Cardeal Steiner não vê dificuldade para a ordenação de diaconisas e homens casados em algumas realidades”, disponível em “ https://repam.org.br/assembleia-sinodal-cardeal-steiner-nao-ve-dificuldade-para-a-ordenacao-de-diaconisas-e-homens-casados-em-algumas-realidades/ “


Lavar-se ou persignar-se com a água benta serve como batismo? Não, porque o Sacramento do Batismo consiste em um ritual completo com água benta e óleo que inclui leituras e declarações escolhidas pelo batizando, e deve ser realizado em conjunto com a Igreja, sob a presidência de um sacerdote ou seu designado, em caso de urgência ou dificuldade circunstancial, para que o batizando receba as bênçãos dos fieis. Vide os rituais em https://www.liturgia.pt/rituais/RICA.pdf  .


“O Baptismo, porta da vida e do reino, é o primeiro sacramento da nova lei, que cristo propôs a todos para terem a vida eterna, 9 e, em seguida, confiou à sua Igreja, juntamente com o Evangelho, quando mandou aos apóstolos: “ide e ensinai todos os povos, baptizando-os em nome do pai e do filho e do espírito santo”.10 por essa razão, o Baptismo é, em primeiro lugar, o sacramento daquela fé pela qual os homens, iluminados pela graça do espírito santo, respondem ao evangelho de Cristo.” (p. 10 op. cit.)


Muitos livros foram escritos sobre o Sacramento do Batismo, suas propriedades e efeitos, e tantos mais bens e divinas fragrâncias quanto mais se olha para ele, quanto mais nele se medita.


*Cientista política, poeta e diplomata.

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