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quatro salmos

Salmo 54 – Livro V



Se fico triste ao ver castelos

de areia que o tempo leva,

por injustiça e por desmazelo

dispersos quando o Sol se eleva…?


Não, eu não ficaria tão triste

fosse a lástima minha, apenas

de ter sonhado algo que não resiste

ao vandalismo de pessoas pequenas.


Também nesta lástima, Cristo crucificado

admoestou às mulheres que por Ele choravam

a não lamentar por alguém limpo a sofrer pecado,

mas o mal que farão contra os que não se lavam.*


De fato, eu chorei muito sendo inocente

e explorada, protestava contra os algozes.

Mas Cristo tem melhor razão subsequente,

para eles as humilhações são mais atrozes.


Agora acumulo essas duas tristezas:

a de ver leis inutilmente publicadas

e as dores aos legisladores reservadas

por ter feito da Justiça uma empresa.


Pensar que no ápice de meu desespero

apelei a Deus contra os templos de iniquidade!

E agora, passada a areia deles, ver o esmero

de um eco do meu grito de infelicidade.

O universo é imenso e de algum modo sincero:

sou ínfima herdeira de uma grande infinidade.


O que terás desta lástima, Senhor, que ganhas com isso?

A injustiça devolvida ao injusto o torna mais insubmisso.

O vandalismo contra quem me vandalizou de nada serve!

Por isso agora eu peço emprestada um pouco de Tua verve

para chorar sobre o choro de quem foi comigo omisso.

Que Teu ensinamento ecoe mais longe, e se conserve:

o poder se esvai como areia, pela força de Teu compromisso.


* Porque se fazem assim no madeiro verde, que será no madeiro seco?” (São Lucas 23:31)



Salmo 55 – Livro V



Pai, livra-me de ser a melhor aluna deste mundo,

pois o mundo é conturbado, rejeitou Teu único Filho.

Isso se repete tantas vezes de modo profundo:

quando pedem Tua ajuda e recusam Teu conselho,

gritam socorro e quando vens Te fazem o exílio…

Repetem juízos, não querem Te conhecer a fundo.


Assim afundam famosos especialistas e mestres da lei:

bitolados no objeto em que buscaram aperfeiçoamento.

A idade mental é baixa, de quem busca o ouro do momento

para arrogar contínuo mando no que pensa o Senhor e Rei:

dispensam o respeito ao próximo, ao rebanho e à própria grei,

convencidos não haver outros além dos próprios fundamentos.

Sem atentar para as consequências do abuso do poder

que o Eterno nos delegou para servir e valer nossos dons,

tanto o homem simples quando o erudito deixam de ser bons,

perdem a oportunidade valiosa de contemplar, de aprender.

O tempo de vida é escasso, a vela termina ao final de arder:

a vida adulta nos sugere abertura, prudência e bom-tom.


Portanto, Senhor, isso eu te peço hoje, aproveitar bem o meu dia:

não perder meu tempo, recurso mais precioso, com mesquinharias.

Que eu não Te use para prejudicar ninguém, nem plantar discórdia!

Que a Tua piedade sempre me inspire humanidade e misericórdia.

Tua paz sempre nasce de um solo propício, que Te custodia.

Não é uma paz feita de vitórias, ganhos, ou reconhecimentos:

é uma paisagem admirável de nosso encontro e contentamento.


Salmo 56 – Livro V


Hoje é aniversário de travessia do Rubicão,

quando César à frente da Legião XIII fez vitória.

Findo o mandato legal, a sua maior pretensão

foi respaldada por virtude e liderança honória.

Ao contrário de quem quer ser líder por imposição,

César não destruiu Roma em sua trajetória!

Mesmo em Roma mentira era demagogia, não História…

Para ser líder em Roma, era necessário ser são

e trabalhar honradamente pela sua maior glória.


Há um hiato entre o que se faz e o que se prega

que produz consequências sobre a vida a nos levar.

Se eu tenho honra, como pregaria ao meu colega

um discurso de enganações para ele interpretar?


Há desonrados que não veem as consequências

do pecado que recomendam e encomendam a um irmão.

Tecem saraivadas de uma falsa e repetida presunção

e dos prejuízos já se esqueceram, não têm ciência…


Sim, meus Filhos, reunir gente aumenta o contágio

não só de vírus letal, também dos sentimentos.

Se eles são maus, quem os lidera quer ganhar ágio

sobre o poder, sobre os tempos turbulentos.*

As consequências são as mortes, os atos violentos.


Houve quem enviasse uma menina judia a Auchwitz,

dizendo a ela que finalmente tomaria na vida um jeito.**

As pessoas perdem por completo noção e limites

se não enxergam das próprias palavras os seus efeitos.


Também quando recomendam recrutar a crueldade

como solução para ocupar um povo mal-instruído

há pessoas que acham não ter nenhuma responsabilidade

sobre os efeitos da destruição em eventos ocorridos.


Retaliações mesquinhas, discursos abjetos e inconformes

nunca vêm de Deus por certo, são do diabo o uniforme.


A política é ofício nobre, das palavras grandes, dos bons afetos!

De quem pouco dorme em busca de fazer um sonho concreto.


Cristo foi preso, não seus seguidores: pediu fôssemos cordeiros…

No entanto o povo festeja Barrabás, ser desonesto e desordeiro.

A política sem dúvida pede Deus, mas um Deus verdadeiro:

de falsos messias já estamos fartos, os realmente brasileiros.


* “Atam fardos pesados e esmagadores e com eles sobrecarregam os ombros dos homens, mas não querem movê-los sequer com o dedo. Fazem todas as suas ações para serem vistos pelos homens, por isso trazem largas faixas e longas franjas nos seus mantos. Gostam dos primeiros lugares nos banquetes e das primeiras cadeiras nas sinagogas. Gostam de ser saudados nas praças públicas e de ser chamados de mestres pelos homens.” (São Mateus 23:3-7)


** Simone Veil (1907-2017), Une vie. LGF, 2009.


Salmo 57 – Livro V


E acho sumamente mais cruel e triste

que o vandalismo dos templos e das ideias

quando um católico nega que Deus existe

ao dizer lugar dos pobres e apóstolos é na cadeia…


Sim, porque pensa o Cristo está no céu, na hóstia, na cruz,

mas recusa o amor da cruz quando recai em seu ombro.

Não aceita caminhar com o irmão em Cristo rumo à luz,

tão rápido se esconde na treva e diz não ter nada a ver com escombros.


Cristo assumiu tudo, sem reclamar inocência alguma:

tomou para si, dos apóstolos, todas as acusações feitas.

Alguém dirá que um servidor que o sofrimento assuma

é Apóstolo e não Judas, o que apenas riqueza espreita?


Há Judas Iscariotes dizendo o povo é de vagabundos,

depois de ter ceado e trabalhado com Cristo por eles.

Não! De um povo sem instrução, perdido e sem fundos

vêm as moedas de ouro tomadas por Judas em tantos niveles!


Do mesmo modo, trai Cristo quem incentiva

o povo a fazer coisas más, violência, discórdia

e depois se diz inocente, sem amor nem misericórdia,

dizendo-se enganado por quem deixou à deriva.

Sim, Pai, assim fico triste e com vergonha alheia,

ao ver católico dizendo ser bom por ter ido à missa.

Pois Judas Iscariotes também estava na Santa Ceia!

Mas nem ouviu Cristo contar a todos de sua cobiça…


Peço a Deus todo-poderoso jamais ser como Judas:

mesmo quando eu me ache, em consciência, inocente

que eu não me furte a ajudar toda e qualquer gente

que tenha sido abandonada pelas greis graúdas…


Porque prefiro sofrer, achar menos mal, e encontrar Cristo

do que ter destino de Judas: é o pior de todos previsto.


A. P. Arendt. Pastorinha. Salmos para meus Filhos. Livro V.




Imagem: William-Adolphe Bouguereau (1825-1905).

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