Se Harry Potter é literatura?
- Ana Paula Arendt
- 3 de fev. de 2024
- 12 min de leitura
Atualizado: 12 de ago.

Se Harry Potter é literatura?
Por Ana Paula Arendt*
Fiquei um pouco abismada ao saber de uma antiga entrevista da escritora Ruth Rocha, de 2015. A internet tem dessas coisas: nos deixa ficar sabendo muito depois de um assunto que nos interessa. Na entrevista, ela dizia que Harry Potter não é literatura, mas entretenimento, comércio de vendas; que as sagas infanto-juvenis com bruxas e vampiros que fazem sucesso são apenas uma moda passageira. Para ela, "A importância é igual”, mas acha “ 'Marcelo Marmelo Martelo' mais literário”. E afirmou que “Eu digo a minha opinião, eles [fãs de 'Harry Potter'] dizem a deles. Não tem problema. Eles podem falar mal de mim. Hoje todos podem dar opinão, palpites, mesmo sem embasamento nenhum.” Ela chega a afirmar que ficção e fantasia não seriam literatura…
Os irmãos Grimm devem ter se remexido no túmulo; e as fadas, é claro, vieram reclamar comigo. Contos de fadas não são literatura? Eu não vou fazer nada? Não digo nada? Não que eu seja a rainha das fadas: sou a quaestor, digamos, só a quaestor delas.
Esclareço que eu gosto tanto de Ruth Rocha quanto de J. K. Rowling, embora não exatamente na mesma medida. Quando eu era criança, não li os livros de Ruth Rocha: como tive acesso a eles apenas anos depois de alfabetizada, eles eram para mim demasiado infantis: eu me cansava e os fechava. Ia na estante procurar Júlio Verne, devorar a coleção completa dele. Mas ‘Marcelo, Marmelo e Martelo’ é um excelente livro para alfabetização; talvez muito longo para uma criança que acaba de ser introduzida às primeiras palavras. Quem já é capaz de ler um livro de várias páginas, depois dos nove, dez anos, precisa de um conteúdo mais avançado.
Por que eu gosto de Ruth Rocha, então? Por causa dos mais doces momentos com meus filhos! Quando havia ainda a Livraria Cultura, meu passatempo favorito era deitar dentro daquela barriga do dragão, na seção infantil; cada um de meus filhos deitados também sobre mim, cada qual a seu tempo, na fase dos três, quatro anos, enquanto eu segurava sobre as nossas cabeças os livrinhos dela. Os três foram alfabetizados assim: no meio de semana a cartilha Caminho Suave, que eles preenchiam como uma brincadeira, sem nem se dar conta de que estavam aprendendo. E nos finais de semana iam adivinhando, para minha felicidade infinita, o que estava escrito nas páginas dos livros. Ganhavam sempre muitos aplausos e beijos. Foi a nossa felicidade.
Mas eu também gosto de Harry Potter, não só dos filmes. Li todos os livros avidamente, passava dois a três dias praticamente sem dormir para devorar cada um deles, quando eram lançados. Lia tanto em português quanto em inglês, embora os preferisse em inglês, para enriquecer meu vocabulário. Sim! Ler Harry Potter no original me ajudou muito a estudar e ser aprovada no concurso do Instituto Rio Branco, muito rigoroso, para diplomatas. Eu os achava muito bem escritos! Os filmes também, gostava muito; embora preferisse os personagens na minha imaginação e a história original, portanto mais completa, do livro. Várias cenas se perderam no resumo do filme. Também os filmes assisti com meus filhos, e os vi lendo esses livros ingleses espontaneamente, com muita avidez, quando já tinham maior idade. Encontraram os volumes nas estantes de nossa biblioteca.
Mas não me considero fã de Harry Potter, nota bene: depois de ler os livros dessa série, fui ler outras coisas. Não fiquei encerrada só naquele mundinho, perscrutando indefinidamente as personagens, até mesmo porque seria algo chato.
Isto para dizer que, tendo lido e constatado a boa qualidade da escrita dessa autora inglesa, assim como a sua personalidade humilde, humana e simpática, eu não acho que seja possível, entretanto, comparar a escrita de J. K. Rowling com as outras sagas de bruxos e vampiros, como se fossem tudo a mesma coisa… E por que não compará-la com as sagas infanto-juvenis sobre os deuses gregos? Rick Riordan vendeu 190 milhões de cópias com a saga Percy Jackson, contando a jovens e crianças sobre os deuses gregos. Não, não se trata de uma moda, nem de ser sobre bruxos, vampiros ou deuses gregos. Trata-se de uma demanda do público leitor infanto-juvenil, de livros de aventura que tenham bons enredos, bons personagens e um conteúdo relacionado a história, que transmita um aprendizado útil à realidade em que vivem.
Ninguém pediu minha opinião, mas nesse espírito, parece-me que é permitido sugerir aos leitores ver as inconsistências graves no discurso que condena a novidade. Essa má percepção sobre o que faz sucesso leva a nossa literatura infanto-juvenil a ter menos efeito e produzir menos benefícios do que poderia. Ora, não deveríamos parar um pouco para pensar? Esses autores de sucesso não subestimaram a capacidade de seus leitores. Fizeram livros de várias páginas, sagas de muitos volumes… Se você vai a uma editora brasileira, quem se animaria a publicar e investir nessa ideia? Acham que as crianças e adolescentes não gostam de ler. O resultado é o contrário: os livros que são elaborados presumindo mal das crianças não fazem tanto sucesso assim…
Quem sou eu para criticar? Acaso seria eu uma escritora infanto-juvenil de sucesso? Não, risos, eu não vendi um livro infanto-juvenil sequer: todos os meus livros dei de presente e fizeram sucesso apenas com meus filhos, antes de dormir. Tenho apenas um ou outro leitor, além deles… Mas talvez eu me qualifique para opinar, mesmo assim: pois talvez eu seja uma pessoa que tenha embasamento. Deixo isso por conta da avaliação de meus leitores porque, como diz o Rei Salomão, nos Provérbios: “não seja sábio aos próprios olhos”…
Vejamos o meu embasamento: Ruth Rocha vendeu 12 milhões de livros, e J. K. Rowling 600 milhões de livros. Mas se isso não deve ser critério para avaliar o conteúdo de um livro como melhor, as maiores vendas, tampouco poderia ser um critério para julgar seu conteúdo como pior, apenas porque vende mais. Como é que se julga um livro como pior, apenas por ser um “best-seller”, ou por versar sobre fantasia? Tolkien foi professor de literatura na Universidade de Oxford. Escreveu fantasia! Os livros dele são uma moda passageira, então, que já dura mais de um decalustro? São a quintessência de um belo trabalho acadêmico.
Existe também uma diferença fundamental por detrás desses números. Os 12 milhões de livros de Ruth Rocha foram vendidos porque são livros obrigatórios em diversas escolas e bibliotecas, e porque os pais os compram: são livros escolhidos sobretudo por adultos. Já os livros de J. K. Rowling venderam tanto para crianças como adultos, mas isso não é o mais importante: o inacreditável é que as crianças escolhiam espontaneamente devorar esses muitos livros.
E por que, então, os livros de J. K. Rowling teriam tido tão grande demanda no mundo inteiro? Ela lançou a moda de falar de bruxos? Neste ponto achei muito interessante o comentário dos jesuítas norte-americanos, quando vieram a público por causa de um escândalo – os livros de J. K. Rowling haviam sido proibidos em qualquer paróquia, ou escola católica, algo dessa natureza, como algo que apelava a elementos obscuros. Ensaiaram relançar a Inquisição! Os jesuítas reclamaram: afirmaram que, pelo contrário, os seus livros trazem excelente teor moral, porque existe uma luta entre o bem e o mal, e Harry Potter com seus amigos resiste, o enfrenta tanto como uma ameaça externa como em si mesmo; e com amor e amizade vence o mal.
A série Harry Potter aborda uma série de elementos que estão presentes na vida das crianças. A dificuldade de estabelecer relações de afeto com a família. A proibição de imaginar e de se encantar, de criar coisas novas, presente no contraste entre magos e trouxas. O elitismo da sociedade, rápido em julgar as pessoas pelas aparências, pelas riquezas e por questões de berço. O problema de não poder estar com a família que se ama. Há vários elementos que nos fazem recordar os contos de fadas, como o fato de Harry Potter viver debaixo da escada, antes de descobrir seus talentos e o grande amor de seus pais: vivia como um ‘cinderelo’. Mas não há só um grandioso embate entre o bem e o mal dos contos de fadas, em que o bem vence, como bem apontaram meus colegas jesuítas: esse embate se transpõe para a vida escolar das personagens, no dia a dia, nos relacionamentos. Também as personagens são muito bem construídas! Elas têm características e personalidades distintas, e a autora nos leva a conhecer as razões que movem cada uma delas. O protagonismo de Hermione nos livros nos faz perceber certas questões de gênero, pelo talento que transborda nela. O fato é que isso desenvolve o olhar das crianças, para perceber traços, atitudes e motivações diferentes, quando fecham o livro e olham ao seu redor.
Há também vários tipos de vilões que nos levam a conhecer vilanias diferentes. Penso que São Tomás de Aquino, que escreveu sobre os sete pecados capitais, se estivesse vivo hoje teria um gosto em ler essa série para crianças. Há uma mensagem, ainda, de esperança: de que o amor faz valer a pena a vida do homem. De que as pessoas que amamos também têm defeitos…
Recorde-se, ainda, que o esforço de pesquisa acadêmica de J. K. Rowling para escrever esses livros foi sensacional. Quem sabia o que era um basilisco, ou que unicórnios tem sangue prateado, ou o que é um hipogrifo? E sobre as poções? Tanta coisa ela inventou bem fundamentada na alquimia, na química primitiva. Suponho não há um aluno que seja fã de Harry Potter e não se lembre do professor Severo Snape, ao entrar em uma aula de química. Ou quem sabia o que é uma mandrágora? Ao pesquisar mais a respeito, encontramos a peça de Maquiavel, A Mandrágora. Coisa que vários de meus colegas cientistas políticos não haviam ouvido falar ainda! A curiosidade que os livros despertam nos leva a tantas partes que não imaginávamos… Sim, os livros da série versam sobre um mundo em que o conhecimento é importante, e mostra às crianças que o uso do conhecimento pode ser manipulado para o mal. Despertam o interesse e utilidade de conhecer coisas antigas, de ir à biblioteca. Enfim, eu poderia elencar uma lista grande de virtudes que essa série Harry Potter transmite aos leitores, mas a principal virtude que me parece sobressair é o amor à leitura. Soube que J. K. Rowling escrevia para a filha dela, em condições extremamente sofríveis, para superar as próprias circunstâncias: com amor, portanto. E neste ponto ela se aproxima de todos os poetas, porque a escrita surgiu como uma necessidade.
O que veio depois, uma espécie de urbe econômica ao redor de seus personagens, assim como a continuidade de outros livros e séries paralelas de menor qualidade, também não deixa de ser relevante: cria empregos e oportunidades para as pessoas em um setor criativo. Mas é preciso lembrar que a difusão de Harry Potter não se baseou apenas em estratégia comercial. Os livros ensinam muito sobre a cultura inglesa, e tudo que está contido ali nos fala bastante da alma de um povo! O interesse dos leitores em conhecer por dentro a Inglaterra, a Escócia, o país de Gales, a Irlanda, e viajar pela imaginação nessas paisagens diferentes fez o sucesso desses livros, também.
Por fim, eu recordaria o vínculo que J. K. Rowling estabeleceu com os leitores. Depois que ela terminava um livro, e os leitores devoravam, eles pediam mais. Ela foi nos preparando livros maiores, mais longos, mais complexos: não deixou as crianças na mão. Por vezes a mágica era real, estava presente na leitura: um trecho que imaginávamos ou sonhávamos surgia no livro seguinte dela… Neste ponto, ela conseguiu encontrar uma afinidade e desenvolver uma amizade com as crianças e jovens, que sentiam nela uma escritora provedora, fornecendo o que eles precisavam para sonhar, imaginar e se deleitar. E na figura do sábio e amoroso Albus Dumbledore… Os bens divinos do espírito.
Recentemente, é verdade, a autora se engajou como ativista em bandeiras que vêm sendo questionadas por comunidades trans e L... GBTQIA e manifestou desapreço pelos atores dos filmes inspirados por seus livros. Mas diversos autores tiveram suas diatribes na vida e, nem por isso, perdeu valor e diversão sua obra.
Bom. Como Ruth Rocha pôde desprezar e passar por cima de tudo isso?
Talvez ela estivesse ecoando a crítica de Harold Bloom em uma entrevista na qual ele afirma que a série Harry Potter é apenas uma moda, cada livro uma coleção de clichês. Disse que as crianças estavam lendo apenas porque os colegas estavam lendo, que era uma febre passageira, e que no futuro seria esquecida, teria valor apenas para os sociólogos. Ora... Cada obra é reflexo do seu próprio tempo. Também muitos clássicos que temos hoje referem-se a uma realidade que, para nós, é ultrapassada. Esse determinismo do que será ou não será preservado acho um excesso.
Harold Bloom é sem dúvida um crítico com muita massa crítica; mas penso que, como toda pessoa que alcança um certo grau de prestígio, tende a se colocar como uma referência controladora dos espaços, para impor com seu prestígio um padrão conforme a sua vontade. Mas toda vez que os críticos se acham mais importantes do que os autores, eles caem.
A fala dele desprezando um livro de sucesso sem igual entre jovens e crianças me fez lembrar de uma senhora francesa de alta classe que o Príncipe de Talleyrand encontrou no seu jantar de début em uma sociedade francesa muito estrita, a do século XVIII. Ele nos conta em suas Memórias que havia a lenda de que ninguém alcançava nenhum cargo nem nenhuma relevância se não contasse com a aprovação benigna dela... Quem nunca viu uma figura assim, que de favorecer as pessoas, passa a se achar "gatekeeper"? Talleyrand, recém-formado como seminarista, ao ouvir dela um questionamento, sobre por que todos ali o deveriam achar digno de fazer parte daquele grupo seleto... Apenas respondeu com uma risada, tendo o cuidado de não incluir na risada nenhuma graça: ha...! ha...! Usou uma perfeita entonação de desabono à pergunta e a ignorou durante todo o jantar, para conceder aos demais sua visão sobre a mais definitiva pequenez da opinião daquela senhora que se achava a dona do pedaço... Ao final do jantar, ele nos relata, todos os convivas vieram lhe cumprimentar pela companhia agradável e por havê-los liberado daquele peso de subordinação e deferência que se arrastava por anos.
Harold Bloom, a propósito, fez uma bela seleção de contos infantis e deu o seguinte título para a sua coleção: contos e poemas para crianças extremamente inteligentes. Achei o título excludente e envaidecedor. Uma criança já é por sua natureza egocêntrica; sendo o amadurecimento e a empatia o conteúdo que me parece mais adequado. Não comprei a obra dele para meus filhos, embora alguém tivesse me presenteado. Li alguns de seus contos para meus filhos; contudo preferiam os contos de fadas mais clássicos e se divertiam comigo lendo Harry Potter, contando-me em que parte do livro estavam, pedindo para eu não dar "spoilers".
Acho indevida, uma pretensão de extrema inteligência do público, para direcionar o livro. Haveria então crianças "burras", ou atrasadas, que não mereceriam ler a coleção de livros de um crítico privilegiado? Mas a coleção não se destina nem mesmo para as crianças inteligentes, notem bem: a coleção dele – que reúne obra de outros autores – se dirige apenas a "crianças extremamente inteligentes". Soa uma propina de vaidade no título. Uma obrigação de gostar, para ser "extremamente inteligente". Essa obrigação estraga o prazer da leitura.
Não me levem a mal! Gosto muito do livro de Harold Bloom sobre os clássicos e aprendi muito com ele. Yale é minha universidade estadunidense favorita. Li os livros para crianças extremamente inteligentes, apesar de ter o cuidado de não me achar tão inteligente, assim, já que aprecio mais outros livros e poemas para crianças. Apenas me incomodou que alguém quisesse ditar o futuro da obra de uma autora, presumindo-se habilitado a definir o que é ou não é relevante, ou universal; como se a literatura universal, tão grande e vasta, pudesse ser reduzida a um cânone estrito... Sendo que o mundo é habitado por pessoas muito diversas, de diferentes interesses e percepções na vida. No seu livro sobre clássicos, ele foi mais humilde nas considerações.
O curioso, entretanto, se voltamos à crítica de Ruth Rocha, é que no caso de nossa autora, ela se afirma contra a ditadura, quando recordamos que escreveu O Reizinho Mandão. E não acaba sendo uma pessoa mandona, a pessoa que toma para si a autoridade de dizer o que é literatura, e o que não é? Não é autoritário afirmar que cada um pode pensar o que quiser, mas ao mesmo tempo declarar que aqueles discordantes não têm nenhum embasamento?
É difícil não passar pela suspeita da inveja… Eu já vi diversos autores brasileiros de respeito se deixarem corroer por um discurso em que encontramos uma ponta de vaidade. Para mim, considerar que a opinião de Ruth Rocha ou de Harold Bloom estariam acima da opinião de dezenas de milhões de crianças seria pura soberba. No caso brasileiro, um nacionalismo anacrônico voltado para uma reserva de mercado, que causa dano à nossa identidade aberta a todos os povos. Criticar uma colega de profissão sem analisar detidamente o que as crianças apreciam na obra dela, desprezando tamanho êxito, apenas porque é estrangeira e fez sucesso, é algo que me parece pouco elegante, para não dizer predatório.
Deixo de gostar de Ruth Rocha? Passo a cancelar essa autora? Nada disso! Acho ridículo o cancelamento, porque isso reflete a selvageria, a mesquinharia, os impulsos do linchamento. Não, Ruth Rocha continua sendo para mim uma boa escritora! Mas comparar Marcelo, Marmelo, Martelo com Harry Potter, pelas razões que expus, parece-me algo inadequado, sendo obras voltadas para públicos diferentes. Para não dizer fruto de uma certa arrogância, se me permitem dizer.
Fico pensando numa florzinha linda que, em um jardim à beira de um lago, olha a sua imagem no reflexo da água, apaixona-se por si mesma e pelo jardim onde se encontra: e afirma que é muito mais linda que um campo de flores com horizonte infinito e vasto, que montanhas recobertas de flores a perder de vista… As crianças passam pelo jardim florido e não a veem; os pais e professores obrigam as crianças a fazer passeio por ali. Mas os olhos dos alunos estão cativados pelas grandes paisagens no horizonte, onde o espírito é livre… Ah, florzinha! E tão insatisfeita, chega a dizer que os campos de flores no horizonte infinito e as montanhas recobertas de flores não são a primavera…
Gosto mais das grandes paisagens floridas, então? A florzinha, que se esforça tanto para permanecer naquele jardim, e dizer que primavera é só ela, ou as flores parecidas com ela, fica triste. Queria que eu dissesse que só no seu jardim existe a primavera! Só onde o jardineiro a planejou… Pois olho para essa florzinha, de a ouvir reclamar. A primavera também está nela…! Numa única florzinha que sente o meu toque.
Mas eu olho para os campos floridos, que dizem moda passageira... E qual flor não é passageira?
* Ana Paula Arendt, pseudônimo literário de R. P. Alencar, é cientista política, poeta e diplomata.


