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Um estudo sobre o jardim





Um estudo sobre o jardim

Por Ana Paula Arendt*


O cheiro de pedra, o voo de ave e as ramas vivas,

estoas de árvores caindo folhas sobre os convivas…

No lugar onde o pássaro madrigueiro faz o seu ninho.

Arvoredos de rosas entoam música pelo caminho…

Tordos buscam os arilos de sementes entre espinhos.


No início do mundo, as coisas relumbravam assim:

Deus, o homem e a mulher morando no mesmo jardim.

Do húmus veio o humano: da humildade feita de terra.

As árvores então cresciam sem dar ordens às serras,

de saber somos pó do mundo que o vento desterra…


No entanto permanecemos, mesmo imensa a fragilidade:

entranhando em solo profundo, mão divina em assiduidade.

Verdejando os mesmos dias, pessoas, ervas e circuitos:

povoado o viridário, um milagre de sossego gratuito…





Um passeio não se conhece pelos seus teixos e flores,

mas pelos olhos dardejantes do Jardineiro, aonde fores.

As florações duradouras de visos alternando entre sombras,

os galhos arqueados com frutos por cima de nossos ombros…

São obras do tempo, de chuva e sol, de planos do outono?

Endechas do coração regando onde olha o seu Dono…


Hoje há jardins ungidos pelo instinto do minotauro:

labirintos onde se perdem os homens buscando restauro.

A sanha dos lutadores, estratégias de dominar e vencer

esvaíram a humanidade nos monstros sem razão de ser.

Distante eu navego meu arco, aguardando o alvorecer…


Onde as estrelas chovem universo pela noite, se é breu,

onde os ciprestes querem tocá-las com estatura no céu.

Eu me agacho para apanhar a flor que meu Anjo recolheu

no jardim de minha infância, onde este poema brotou e cresceu.




De andar perene na grama picavam meus pés os tufos macios…

Um tronco se ergueu inclinado e eu o escalava, até hoje aprecio.


Por que tão lindo lugar tinha a entrada proibida pelas freiras?

No educandário curumim, um muro cercava tantas pétalas em suas cadeiras.

Depois, de andar no campo, achei mesma graça de me guardar inteira…


Contudo agora eu faço como antes queria fosse feito:

este jardim de livre acesso, ruando para sempre perfeito.


* Ana Paula Arendt. Estudos III.





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