MENSAGEM AOS ILUSTRES INTEGRANTES DA ACADEMIA CONTEMPORÂNEA DE LETRAS, POR OCASIÃO DE SUA INAUGURAÇÃO EM 23 DE MARÇO DE 2019
Aos meus colegas acadêmicos encaminho esta mensagem congratulatória que espero possa ser bem recebida. Minha cordial saudação à Exma. Dra. Marly de Souza Carrasco Almeida por conduzir os trabalhos desta recém-criada Academia Contemporânea de Letras com esmero; e meu sincero agradecimento à ilustríssima escritora Thais Matarazzo pelo convite em me somar a essa nobre iniciativa, o qual muito me honra. Não obstante lamentar não poder me fazer presente na data da sua solene inauguração, em função de me encontrar designada a serviço no continente africano, transmito meus votos de pleno êxito da solenidade que reúne escritores apaixonados e dedicados ao seu ofício.
Aceitei o convite, esperando poder encontrá-los em uma próxima oportunidade, porque nós precisamos mais do que nunca de literatura, poesia e das habilidades intrínsecas de melhor dizer o que somos e o que pensamos, da capacidade de se reunir e de se confraternizar, nestes tempos nos quais as pessoas se veem chamadas a recolher-se na ilusão de segurança de suas vidas privadas e a se isolar em acontecimentos tal como nos são apresentados. A literatura e a poesia são manifestações criativas que despertam na sociedade a vontade de refletir, de recuperar uma sensibilidade perdida e de preservar um sentido humano em cada leitor. Ao escritor, a arte de escrever convida a encontrar um propósito mais forte do que as pendências do cotidiano, a uma liberdade que nos surge pela necessidade de expressar o que se sente e o que se vê. Nessa arte, não é necessário ser célebre, reconhecido, nem mundialmente difundido para ganhar nova percepção sobre si e sobre o mundo, enquanto se escreve, nem para completar o que dentro de nós nos falta. Fico muito honrada em fazer parte de uma íntegra confraria de autores que se reúnem por nada mais além do que ter em comum a gratificante atividade da pluma, o amor aos livros e aos escritores que nos precederam. Amar os livros e a obra de grandes autores que nos precederam é uma causa pela qual tenho muito apreço, da qual tenho testemunhado ser a ilustríssima Thais Matarazzo uma árdua defensora. Que a chama viva transmitida por aqueles que admiramos possa coruscar nesta Academia.
Considero que há uma justificativa pública também em partilhar nossos esforços e escritos: pois a poesia e a literatura são uma forma eficaz de combater as enfermidades da violência, da indiferença e da crueldade que abalam o nosso tempo. Um verdadeiro escritor, uma verdadeira poeta, jamais será indiferente ao sofrimento ou às questões que afligem as pessoas que amamos e a si. Uma confraria na qual possamos nos respaldar certamente poderá trazer maior tranquilidade e alegria ao exercício dessa vocação. Espero honrar e divulgar o nome de Conceição Evaristo, quem apontei para que fosse homenageada pela excelente nova Academia que aqui se inaugura, com o nome da cadeira nº. 33, pois ela muito me emocionou ao empunhar uma memória sobre a importância de sua mãe para que sua infância e de seus irmãos tenha sido alegre, meio às mais difíceis agruras. Ela valorizou uma identidade intrinsecamente ligada à canção africana, da qual faço parte pela minha condição de brasileira, cultura a qual passei a conhecer e com a qual tenho me encantado. Que todos os escritores aqui presentes possam se inspirar também com suas mães que, com suas mãos, versos e histórias, assumiram a direção de sua própria alma e buscaram encantar seus filhos. Pois todos os leitores, incuídos nós mesmos, necessitamos de palavras exímias e narrativas zelosas que dialoguem com nossos trajetos, que nos desvelem a beleza do mundo, que nos animem a encontrar caminhos e seguir adiante.
Afetuosamente,
Ana Paula Arendt.