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O pássaro preto sobre o danúbio/black bird over the danube






O pássaro preto sobre o Danúbio

Ana Paula Arendt

(para Ileana Chura)


Os cômoros estão ao longe guardando o Danúbio, se estendem em camadas ao longe, os vastos campos de trigo, girassol e milho. Girassóis erguendo o pescoço para ver o mundo com o rosto recém-nascido, milharais se nivelando uns com os outros, disciplinando a paisagem que termina muito distante nos cômoros. Canais do Danúbio ao Tisa, do Tisa ao Danúbio, construídos por estudantes de férias com mãos de futuro, por falta de chuva, por céu sempre azul. Marmelos caídos abundantes, pêssegos, pêras, cerejas e nozes, frutas silvestres dominadas nas longas plantações em trilhos, ao longe. Sobrou tanto que a vasilha onde ficaram as frutas produziram a rakia, destilou-se a abundância, o riso, o minuto tornado em hora. Os canais e os seus pântanos cercados de muralhas verdes, árvores altaneiras, retas e esbeltas, a erudição austro-húngara nos telhados bem delineados do vilarejo vizinho, na ponta de cada telhado um detalhe, uma estrela… Os povoados desenhados pelos arquitetos vestidos de folclore, até chegar no horizonte plano, nas calçadas largas. Quase Brasília…. O mesmo concreto aparente da Universidade de Brasília ergue a Universidade de Novi Sad, a mesma ponte quicando trajetória de pedra saltando sobre a água liga as margens do Danúbio e do Paranoá. E debaixo daquela água azul quase infantil, o painel de corpos lançados pela guerra, que afundaram no Danúbio em holocausto. Memoriais nas bordas… Ali repousa a família que Ileana Chura esperava, amiga famosa que fez meu primo famoso*. Uma literata, criança esperando a família voltar do Danúbio, sentada em uma poltrona verde, por dias infindáveis. Ali, então, está o lamento encontrado do nada. A diferença entre tormento e lamento. Eu não posso molhar os meus pés no Danúbio que visita Novi Sad, sepulcro de nobre família. Percorro nele os meus olhos, na superfície azul e verde, o rio que me leva a ver muitos contornos entre a Floresta Negra e o Mar Negro. A vida dos pais dela entregue ao rio. Encontro intenso de fazer a vida mais humana, de fazer profundidade e escuridão no leito do Danúbio. Os rios da Amazônia têm a profundidade do mar, lugar aonde o boto vestido de homem sedutor leva a moça fagueira; mas naquele ponto de holocausto, a profundidade do Danúbio é desconhecida. Lugar onde os versos brotam. Lugar onde Deus jura. Onde a fé é estatelada. Pensando bem: mesa de sacrifício, donde jorra o sangue que esperamos transformar em vinho. O limite do abismo, a margem do perigo, da vida valendo nada. Não queres eu diga a brutalidade não tem consolo. Queres que eu diga algo que nos repare. É também quase Brasília. Mas na terra luminosa hoje se ergue a cidade pacífica e industriosa, as tílias floridas mostram o anverso de suas folhas, vão guardando caminhos, aconchegando suas tenras mudas debaixo das copas, suas folhas pequeninas frente-e-verso balouçando o vento, piscando luz forte de verão, o Sol rebentando jardins ornados, cornucópias. Em cada árvore do parque há um verso escondido pedindo para ser encontrado, a fim de que a poesia acorde, o bosque guarda livros querendo dormir na biblioteca. Tudo ali é plantação para colher chegado o tempo, tudo é preparação que pretende produzir frutos. As pontas das folhas dos arbustos de Novi Sad são leves, formosas, complexas, espiraladas de detalhes delicados, as pontas dos muros verdes baixinhos se estendem no ar da cidade horizontal, fazem rendas bordadas pela natureza. Os cabelos frisantes e coloridos das mulheres pairam aéreos, como pairam os galhos, os cabelos abertos e armados de Partenopeia procurando o mar. Os vários povos que ali se alinham, rutênios, romênios, tchecos, húngaros, búlgaros, eslovacos, sérvios, croatas, alemães, turcos e gregos, aprofundamento europeu do continente eslavo, prosseguimento do sangue acariciado, proeminência, reentrância do Danúbio em sulcos. Sul virando Norte. O pássaro preto sozinho atravessa em sua própria ponte, delinea o trajeto até o outro lado do rio, oculta a fortaleza com sua penugem negra. Pousa sobre o relógio da fortaleza, o relógio bêbado. Quem não é dali perderá muitas horas, sem saber que horas são. Relógio feito para o navegador fluvial que não quer saber dos minutos, apenas das horas, que faz o seu próprio tempo, crescendo o ponteiro de minutos em horas. Relógio bêbado, sentinela do rio. O pássaro preto prossegue o voo de levar meus olhos, e dentro da fortaleza guardando o relógio há uma sala, e dentro da sala, uma porta: depois da porta, uma cadeira mágica feita de livros, onde haverá repouso deste livro. Estofamento feito por escritores, traçado e desenho de muitas mãos estendidas, ah, é Novi Sad, Novo Jardim, ali se fez um canteiro de gente florida, há plantações de prosa em livros, também. E o que tenho de novo? Este túnel mágico por onde o Danúbio flui e voa, ligando a cadeira feita de livros feitos no mundo todo**, na sala da fortaleza onde o pássaro preto voa, até à cadeira feita de espera de Ileana Chura, no Museu de Adligat***, onde o tempo também voa, onde se guardam objetos curiosos feitos no mundo todo. As cadeiras estão agora ligadas, e se sentando numa, se levantará da outra, túnel por meio do qual a família de Ileana, agora luminosa e expandida, a reencontra sentada, esperando. Reinações, de reinar os livros, reinar a esperança. O tempo ali não está perdido. Não se estende aquele rio entre o nada e a morte. Neste meio do caminho fica a mesa de sacrifício onde senta a menina pioneira em holocausto, pessoa nascida e crescida judaica, escolhida entre os povos para trilhar primeiro o fundo desconhecido das coisas. Ali reflito o que ela nos deixa, a busca de explicações, porque venho depois, para dizer o imenso espaço entre o meu tormento de aguardar a chegada de meus filhos e o lamento de perder os pais que ali se memoriza. Mas estou no meio de caminho de perder meus pais, de sentar naquela mesma poltrona de espera de que as coisas sejam como antes - verdes como no Paraíso de ter pai e mãe zelando pelo futuro, vivos e presentes…. Ali encontro o desígnio dela de diminuir do outro a dor trilhando o caminho primeiro, dizendo viveu a dor antes, preparação do espírito, entendimento de amparo. Encontro intenso de fazer a vida além do tempo e mais humana. Estar no meio do caminho é algo que nos toca, aresta por onde passa o pássaro, caminho sinuoso que trilham os capítulos. Cidade-jardim aberta ao mundo, cheia de indústria e merecimentos, anfitriã, em ambos os lados do Danúbio, em torno da plantação, de horizonte aberto, braços abertos, sorriso aberto. O pássaro também se abre para voar. Anfi-pássaro. O coração aberto a receber algo de novo, cidade que é, em seu canto aberto, escolhida. As ruas pérvias, os passeios luminosos, as vias sem ruídos... As fachadas geminadas dos prédios mimosos e coloridos na cidade aberta a ser partilhada, triângulos entre o Sol e a sombra, de dizer mesmo dia. Fizeram o novo jardim em campo aberto, construíram e ali se abre a cidade bem cuidada e transitável, com sua fortaleza vestida de amarelo claro e branco com janelinhas de avião, entrecruzada pelo passeio, ah, prima do Kalamegdan, distribuindo cameratas ao longe dispersas, música dos anos, pedindo coisas novas, guardando os sonhos ilustres, suscitando conhecer e explicar a origem de nossas coisas, a identidade que nos mantém sendo o que somos. De onde começamos a percorrer o mundo..? E como recebê-lo? No meio do caminho, a pausa de um jardim bem ordenado, aberto e feito de coisas novas, onde se plantam as novidades, onde se produzem cereais e frutos, máquinas, horas, versos, triunfos e lástimas. O Danúbio é um poeta que veio de um lugar escuro e vai parar em um lugar também escuro. Antes de nascer, a ausência de luz; e ao morrer, o fim dela. Nesse entretempo, percorre o longo caminho sinuoso de toda essa produtividade luminosa ornada de cômoros emoldurando tílias piscantes em cidade aberta, caminho que reclama algo novo e nos mata muito, de querer triunfar tudo melhor e mais belo. Delicado o pássaro negro bordando o rio que vai do negro ao negro, o pássaro que atravessa sozinho tudo isso. Juntam as gentes todas do mundo ali em Novi Sad, declarando, no ventre da Europa, que estão muito satisfeitos com o pouco disto, com os livros feitos em toda parte do mundo fazendo trono, com os objetos raros encontrados pelo mundo inteiro fazendo sorriso, com o que anotei dos pensamentos achados por aí no mundo, sem me atentar. Do mesmo dia que ali se guarda e se repete, posso observar todos os dias que vivemos, fazer as horas das quais tanto preciso, com meus filhos e meus pais e irmãos, e mais irmãos, num passeio interminável pelo mundo das coisas visíveis e invisíveis. Tudo isso cabe no tempo de espera entre a Floresta Negra e o Mar Negro. Um pássaro preto sobre o Danúbio me disse isso.


* Ileana Chura, lingüista e especialista em literatura, PhD formada pela Universidade de Yale, filha das mais ilustres famílias de Vojvodina, foi amiga de muitos escritores ilustres e dona de uma história notória. Nascida em 15 de fevereiro de 1930 em Novi Sad, perdeu no Danúbio sua família, durante o holocausto. Atrasou-se em ser levada pelos algozes, porque teve de retornar à sua casa, para buscar um casaco. Depois que partiram, sem esperá-la, ficou aguardando o retorno de sua família em uma poltrona verde, durante longo tempo de espera. Antes de se formar em sua carreira e de se tornar professora da Universidade de Belgrado, chegou a ser escrava doméstica. A relíquia de sua poltrona de espera se encontra sob a guarda do Museu de Adligat, instituição da qual foi também fundadora.

** A poltrona mágica feita de livros é uma atração do Festival de Prosa de Novi Sad, onde já se sentaram Vargas Llosa, Olga Tokarczuk, Peter Handke, Orham Pamuk, Samanta Schweblin e Luisa Valenzuela.


*** O Museu de Adligat, ou Museu do Voo, único de seu tipo no mundo, é um lugar que coleciona mais de 2 milhões de itens raros e de especial interesse colhidos em diversos países e regiões por várias gerações da família de Viktor Lazic, o “Indiana Jones” sérvio.


Imagem: O “Relógio Bêbado”, no Forte Petrovaradin em Novi Sad, à beira do Danúbio, na Sérvia. Os ponteiros estão trocados, porque os navegadores precisam apenas ver as horas e enxergam melhor o ponteiro maior, desde ao longe.




The black bird over the Danube

Ana Paula Arendt

 (to Ileana Chura)  


The bunds are in the distance guarding the Danube, they stretch in layers of soft hills in the far scope, the vast fields of wheat, sunflowers and corn. Sunflowers lifting their necks to see the world with their newborn faces, cornfields leveling with each other, disciplining the landscape that ends far away in the ridges. Canals from the Danube to the Tisa, from the Tisa to the Danube, built by students on vacation with hands on the future, due to the lack of rain, due to the always sky blue sky. Abundant fallen quinces, peaches, pears, cherries and walnuts, wild fruits dominated the long railed plantations in the distance. There was so much left, that the vessel where the fruits were left produced rakia, abundance, laughter was distilled, the minute turned into the hour. The canals and their marshes are surrounded by deep green walls, towering trees, straight and slender, Austro-Hungarian erudition on the well-defined roofs of the neighboring village. At the tip of each roof a detail, a star... The villages designed by architects are dressed in folklore, until you reach the flat horizon, on the wide sidewalks. Almost Brasilia…. The same exposed concrete of the University of Brasília builds the University of Novi Sad, the same bridge marking a bouncing stone trajectory, jumping over the water, connects the banks of the Danube, as it does over the Paranoá. Twenty minutes from Novi Sad there is a village called Brasilija, a great mystery! And beneath that almost childish blue water, the panel of bodies thrown by the war, which sank into the Danube during the holocaust. Memorials on the edges... There rests the family of a literary lady*, when a child is waiting for her family to return from the Danube, sitting in a green armchair, for endless days. There the lament, found out of nowhere. The difference between torment and lament. I cannot wet my feet in the Danube that visits Novi Sad, that family's tomb. I run my eyes over it, on the blue and green surface, the river that takes me to see how many contours it makes between the Black Forest and the Black Sea. Her parents' bodies, handed over to the river. The meeting between the body and the water creates more depth and blackness in the bed of the Danube. The edge of the abyss, the edge of danger, of life being worthless. However, you don't want me to say brutality has no consolation. You want me to say something to repair us. The rivers of the Amazon are as deep as the sea, a place where the dolphin dressed as a seductive man takes the jaunty girl; but at that point of the holocaust the depth of the Danube is unknown. Place where the verses grow in crops. Place where God swears. Where faith is shattered. Come to think of it: sacrificial table, from which the blood we hope to transform into wine flows. But deep in, the Danube, at its core, is this: it comes out of the darkness to gush into the darkness. In the middle of the path, it is azure blue, and the clouds do not interrupt it... As it bathes the luminous land in contrast, where today the peaceful and industrious city stands. The flowering linden trees (Sitnolisna, kasna lipa) show the obverse of their leaves, they guard paths, nestling their tender seedlings under their canopies, their tiny front-and-back leaves swaying in the wind, flashing strong summer light, the Sun bursting through gardens ornations, cornucopias. The weeping beeches looking down, waiting for someone in love to bring up their chin and say they’re magnificent. In each tree in the park there is a hidden verse asking to be found, so that poetry wakes up, and the forest holds books wanting to sleep in the library. Everything there is a plantation to harvest when the time comes, everything is preparation that aims to produce fruit. The tips of the leaves of the bushes in Novi Sad are light, beautiful, complex, spiraling with delicate details, the tips of the low green walls extend into the air of the horizontal city, making lace embroidered by nature. The women's frizzy, colorful hair hangs in the air, like the branches, there is the open, armed hair of Parthenopeia looking for the sea. The various peoples that line up there, Ruthenians, Romanians, Czechs, Hungarians, Bulgarians, Slovaks, Serbs, Croats, Germans, Turks and Greeks, European deepening of the Slavic continent, continuation of the caressed blood, prominence, indentation of the Danube in furrows. South turning North. The black bird that bathed in the darkness of the Danube alone crosses it making its own bridge, the black bird outlines the path to the other side of the river, hiding the fortress with its black down feathers. It lands on the fortress clock, the drunken clock. Anyone who isn't from there will waste many hours, not knowing what time it is. A clock made for the river navigator who doesn't care about the minutes, only the hours, which makes his own time, the minute hand growing into hour hand. Drunk clock, the river sentry. The black bird continues its flight by taking my eyes, and inside the fortress guarding the clock there is a room, and inside the room, a door: after the door, a magic chair made of books, where this book will rest. Upholstery of books made by writers, tracing and drawing of many outstretched hands, ah, it's Novi Sad, New Garden, there we have a flowerbed of flowery people, there we have plantations of prose in books, too. And what do I have to offer as new? This dark tunnel where the Danube flows and flies, connecting the chair made of books made all over the world**, kept in the room inside the fortress where the black bird flies, to the chair made of waiting, in the Adligat Museum*** , where time also flies, where curious objects made all over the world are kept. The chairs are now connected, and if you sit down on one, you will get up on the other, a dark tunnel through which the family that plunged into the Danube now rises bright and expanded, for the reunion, after so much waiting. Two thrones of reigns, of reigning books and reigning hope. The clock shows that time is not lost there. That river does not only stretch between the darkness of nothingness and the darkness of death. In the middle of the road sits that pioneer girl in holocaust, one of the people chosen to first tread the unknown depths of things, creating elatedness. There I reflect on what she leaves us with, the search for explanations, because I come later, to say the immense space between my torment of awaiting the arrival of my children and the lament of losing her parents that is memorized there. Yes, there she remembers me being in the middle of losing one's parents, of sitting in that same armchair waiting for things to be as they were before - green as in the Paradise of having a father and mother watching over our future, living and still present…. There I find her purpose to heal the other person's pain by having walked the painful path first, saying she experienced the inexorable pain with more intensity and before us, so preparing our spirit, giving an understanding as support. An intense meeting to make life more human. Being in the middle of the thriving path is something that touches us, the edge where the bird passes, the winding path where the chapters follow. Garden city, open to the world, full of industry and merits, our amphitryon, on both sides of the Danube, around the plantation, with an open horizon, open arms, an open smile. The bird also opens its wings to fly. Amphi-bird. A heart open to receiving something new, a city that is, in its open corners, chosen among many more famous ones. The pervious streets, the bright sidewalks, the noiseless roads... The semi-detached facades of the charming and colorful buildings in the open city sharing guests, triangles between the sun and the shadow, the very same day. They made the new garden in an open field, built it and there the well-kept and walkable city opens itself, with its fortress dressed in light yellow and white, with small plane windows, crisscrossed by the promenade, ah, cousin of Kalemegdan, besprinkling cameratas in the distance, music of the years, asking for new things, keeping illustrious dreams, encouraging us to know and explain the origin of our things, the identity that keeps us who we are. Where did we start to travel the world...? And how to receive it? In the middle of the way, the pause of a well-ordered garden, open and made of new things, where new things are planted, where cereals and fruits, machines, hours, verses, triumphs and sorrows are produced. Danube is a poet who came from a dark place and ends up in a dark place. Before being born, the absence of light; and when he dies, the black end of it. In the meantime, the poet travels the long winding path of all this luminous productivity adorned with ridges framing winking linden trees in an open city, a path that demands something new - and for that kills us a lot, for wanting to triumph in everything better and more beautiful. Delicately the black bird is bordering the river that goes from black to black, the bird crossing all of this alone. Gathering all the people of the world here in Novi Sad, declaring, in the womb of Europe, saying that they are very satisfied with the little of this, with the books made everywhere in the world, with the rare objects found all over the world, with some notes of the thoughts found around the world. From the same day that is kept there and repeated, I can observe all the days we live, spend the hours I need so much, with my children, remembering having a family, on an endless walk through the world of visible and invisible things. All of this fits into the waiting time between the Black Forest and the Black Sea. A black bird over the Danube told me this.


* Ileana Chura, linguist and literature specialist, PhD from Yale University, daughter of the most illustrious families in Vojvodina, was a friend of many illustrious writers and the owner of a notorious life story. Born on February 15, 1930 in Novi Sad, she lost her family on the Danube during the Holocaust. She was late in being taken away by her executors, because she had to return to her house, as she forgot her coat. After they left, without waiting for her, she waited for her family to return, unaware of what happened, sitting in a green armchair, waiting for a long time. Before graduating in her career and becoming a professor at the University of Belgrade, she was a domestic slave. The relic of her waiting chair is kept by the Adligat Museum, an institution of which she was also the founder. She was friends with Paulo Coelho, my not-so-distant cousin. My thanks to Dr. Viktor Lazic for sharing her life story.


** The magic armchair made of books is an attraction at the Novi Sad Prose Festival, where Vargas Llosa, Olga Tokarczuk, Peter Handke, Orham Pamuk, Samanta Schweblin and Luisa Valenzuela have sat.


*** The Adligat Museum, or Museum of Flight, the only one of its kind in the world, is a place that collects more than 2 million rare and special items collected in different countries and regions by several generations of Viktor Lazic's family , the Serbian “Indiana Jones”.

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